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14 de mar. de 2016

Diálogo incorrigível



       No escaninho encontro um bilhete. Essa caixa de correspondência engraçada me dá o poema exato: meu fracasso perpetua(do(r)): falha que propicia o desencontro. A moldura é um corte, o rasgo cuidadoso da folha do caderno. Continha outros versos? Teus rabiscos? Dialogamos. Leio teu recado - o gesto de quem faz uma entrega, faz surpresa, faz contato.
       Minha tentativa é de desvio: tateio a correção do incorrigível: escrever mais, dizer mais, ensaiar uma conversa… a escrita apressada busca brechas, provoca com as perguntas uma inquietação, um pensamento que duvida, que suspende e desconfia, que cria saídas outras… Outros versos? Chega mais perto. Meus sonhos são incorrigíveis. Eu professo? Conter a dor é a nossa lição diária? Resistir. Listas e listas de nome, chamada, diário, números registrados com precisão, somados, divididos, rasurados. O erro é banal. Querem (me) agradar? Eles querem pela metade. Meu desconhecimento é total. Cultivar a porção exata do não saber assegura algo de muito delicado e fundamental, a sobrevivência, uma abertura.


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