bate o vento eu movo
volta a bater de novo
a me mover eu volto
sempre em volta deste
meu amor ao vento
Paulo Leminski, nos Caprichos & relaxos
24 de ago. de 2012
23 de ago. de 2012
Sobre o sujeito e o ser-possuído
(para Drummond e Cabral, que aprenderam com a pedra)
Os sentimentos "experimentados atualmente pelos homens mais sensíveis" se reduzem a um "pequeno catálogo" limitado pela pobreza do léxico à sua disposição: eles se contentam em ser "orgulhosos" ou "humildes", "sinceros" ou "hipócritas", "alegres" ou "tristes", "com todas as combinações possíveis dessas qualidades deploráveis". Resta-lhes, contudo, "conhecer milhões de sentimentos" diferentes, o que não poderão fazer a partir do contato com seus semelhantes, prisioneiros das mesmas expressões e representações estanques, mas a partir do contato com as coisas, cuja infinita diversidade nunca foi verdadeiramente levada em conta pela linguagem. Pois os homens não fazem senão projetar nelas seus miseráveis estados de alma; da pedra, por exemplo, eles não encontram nada melhor a fazer e a dizer do que lhe dar um coração, com o qual ela passará bem, pois se trata de "um coração de pedra".
Michel Collot, pensando sobre (com) Francis Ponge, no texto "O sujeito lírico fora de si"
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7 de ago. de 2012
o que tem duração
Enquanto eu lia o livro
Enquanto eu lia o livro,
a famosa biografia:
- Então é isso (eu me perguntava)
o que o autor chama
a vida de um homem?
E é assim que alguém,
quando morto e ausente eu estiver,
irá escrever sobre a minha vida?
(Como se alguém realmente soubesse
de minha vida um nada,
quando até eu, eu mesmo, tantas vezes
sinto que pouco sei ou nada sei
da verdadeira vida que é a minha:
somente uns poucos traços
apagados, uns dados espalhados
e uns desvios, que eu busco
para uso próprio, marcando o caminho
daqui afora.)
Walt Whitman (em tradução de Geir Campos)
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