[OS NOMES QUE DOU À ESPERANÇA]
[minha esperança tem muitos nomes. por exemplo, serrote. por exemplo, martelo.]
[chamo-a igualmente de enxada, goiva, prumo e bússola.]
[assim que a esperança se posiciona na paisagem, trato de chamá-la lápis, caderno, apontador.]
[em certos momentos, nomeio a minha esperança de semente, mas logo sei que melhor será chamá-la arado, lavoura, plantio e colheita.]
[em outros instantes, quando das travessias impossíveis, chamo-a barco, barcaça, navio.]
[dou sempre à minha esperança os combustíveis do movimento.]
[se adoentada, frágil e anêmica, trato de dar à minha esperança os sapatos do andarilho.]
[levo comigo o odre com a água para que a minha esperança não morra de sede.]
[levo comigo o odre com o vinho para que a minha esperança não morra de tristeza.]
[levo comigo as cores todas da paleta de cores para que a minha esperança possa estar pronta para os bailes e as alegrias.]
[há um nome que muito aprecio dar à minha esperança. este: o nome mão. a mão em côncavo para receber, a mão tesa para o trabalho.]
[há um nome que muito aprecio dar à minha esperança. este: dia. o dia que começa, o dia que atravessa, o dia que chega à tarde com os seus minutos todos plenos de verbo fazer.]
[para minha esperança, sempre encontro um verbo-flecha, um verbo-dardo, um verbo-seta, esses verbos todos inquietos.]
[a minha esperança tem sempre o corpo inconformável, e mesmo nos predomínios do desânimo ela encontra a correnteza dos rios.]
Paulinho Assunção, daqui