Páginas

1 de mar. de 2014

no fim do começo

Estética da recepção


Turris eburnea
Que o poeta brutalista é o espeto do cão.
Seu lar esburacado na lapa abrupta. Acolá ele vira onça
e cutuca o mundo com vara curta.
O mundo de dura crosta é de natural mudo,
e, o poeta é o anjo da guarda
                     do santo do pau-oco.
Abre os poros, pipoca as pálpebras, e, com a pá virada,
mija em leque no cururu malocado na cruz da encruzilhada.
Cachaças para capotar e enrascar-se em palpos de aranha.

Ó mundo de surdas víboras sem papas nas línguas cindidas,
                    serpe, serpentes,
já que o poeta mimético se lambuza de mel silvestre,
carrega antenas de gafanhoto mas não posa de profeta:
                                           "Ó voz clamando no deserto".
Pois eu, pitonisa, falo que ele, poeta
          não permite que sua pele crie calo
dado que o mundo é de áspera epiderme
                            como a casca rugosa de um fero rinoceronte
                            ou de um extrapoemático elefante
posto que nas entranhas do poema os estofos do elefante
         são sedas
                   delicadezas
                            carências de humano paquiderme.

É o mundo ocluso e mouco amasiado ao poeta gris e oco.
Caatinga de grotão seco atada à gamela de pirão pouco. 
Suportar a vaziez.
Suportar a vaziez como um faquir que come sua própria fome
e, sem embargo, destituído quiçá do usucapião e usufruto do tino
com a debandada de qualquer noção de impresso prazo de jejum.

                          Suportar a vaziez.
                          Suportar a vaziez.
                          Suportar a vaziez. 
Sem fanfarras, o vazio não carece delas.



Waly Salomão, em O mel do melhor

Nenhum comentário:

Postar um comentário