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23 de nov. de 2016

uma versão possível

[a partir da pergunta-convite de Iara]







pela circunavegação bissexta,
outra vez também eu tonta tento responder todo dia um pouco menos ridícula, um tanto mais esdrúxula falo sem falta com vocês


Eu sou aquela que contém
também
pronta a atacar sem dó
defendo os muros que escolhi erguer
o esforço diário de não baixar a guarda
de não levantar a saia
sempre
sentir o ar passando
pelas pernas
o prazer


eu sou aquela que acolhe
que se abre
e dá
e casa
álibi
com os braços, seguro, apoio sobre as ancas
encaixado na curva da cintura o projeto
da casa o projeto
da vida
horas e horas e horas empilhando uma peça sobre a outra:
a imagem sonhada
cria
lugar precioso que
habito, e
desmorono também


eu sou aquela que desliza
que espera até ter certeza
e recua sem pestanejar
vento que antecede a
tempestade o sangue
que não
vem


eu sou aquela que lê
que coleta os sinais
desvenda
e finge não ouvir,
que forja o não saber
nada
se irrita
rouba e abala
extermina as chances da diferença em nome da
adequação segura
Morre.
Mato.
Cria.
Parte.


Eu sou aquela que nutre
que retira as comidas estragadas da geladeira
as cascas soltas e insistentes da cebola se espalhando
decide desorganiza o alimento
as especiarias todas
as poções
que ele busca no portão
a pitada
bálsamo
veneno para o descanso
a ignorância


sou a que escreve cartas
que não termina
a cabeça dói
o corpo quente
o vizinho cortando a grama o dia inteiro esse barulho de máquina
a praia ao lado
eu recuo
ressaca
braba
outra vez também
acalmaria

eh

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