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7 de jun. de 2018

pequenas e incontornáveis invasões


Lygia Pape, caixa de formigas, 1967

[em resposta a pergunta da Ju Pereira]


Tem formigas por tudo aqui na minha casa, são bem pequeninas e desconfio que estão comendo as raízes da planta e também que se quiserem elas podem entrar nas engrenagens do computador e causar estragos. O que eu posso fazer além de solicitar que se vão, que encontrem outro lugar para sua marcha?
Sinto mais do que nunca o desejo de escrever, enquanto minhas mãos se movem aceleradas, o branco da tela se enche de manchinhas pretas pequeninas, insetos. Elas se acumulam e se espalham num ritual louco de reprodução instantânea. Biologia, magia, concepção. Fico esperando aquele relâmpago de luz com o teu nome. As letras o compõem como um código de acesso primordial e secreto, coreografia das formigas, o direito a subir à tona e puxar mais um tanto de ar. Emergir. Ou o inverso? São muitas perguntas, há apenas perguntas, o homem das questões sabe disso porque carrega a interrogação nas costas, formiga levando um mínimo resto imenso, precisa se mover incessantemente, tão rápido que não chega a sentir cansaço, só o vento no rosto e nos cabelos, fugaz.

eh

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