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5 de jan. de 2010

falas

FÁBULA DO VENTO E DA FORMA

dizemos vento para dizer
o frágil, efêmero,
o que se mostra inalcançável
ou já não tem fundamento

também
acaso
impulso
destino

assim reunidas
essas palavras passam
a permutar suas atmosferas
respectivas

que nada têm
do vento quando
parece acompanhar
o curso d'água
e duplicá-lo

como se antes mesmo
de completar sua passagem
se dissipasse
num movimento
acima dos sentidos

outro, como se sabe,
é o desígnio da forma,
não só o de querer
persistir pela combinação
de suas cláusulas

mas desdobrá-las
em metamorfoses sempre dispostas
a absorver em si mesmas
o que lhes resiste
ou se mostra inalcançável

até tocar o limite
de sua própria negação
como o vento
sobre a harpa eólia
ou nos móbiles de Calder

Duda Machado
em Margem de uma onda

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