FÁBULA DO VENTO E DA FORMA
dizemos vento para dizer
o frágil, efêmero,
o que se mostra inalcançável
ou já não tem fundamento
também
acaso
impulso
destino
assim reunidas
essas palavras passam
a permutar suas atmosferas
respectivas
que nada têm
do vento quando
parece acompanhar
o curso d'água
e duplicá-lo
como se antes mesmo
de completar sua passagem
se dissipasse
num movimento
acima dos sentidos
outro, como se sabe,
é o desígnio da forma,
não só o de querer
persistir pela combinação
de suas cláusulas
mas desdobrá-las
em metamorfoses sempre dispostas
a absorver em si mesmas
o que lhes resiste
ou se mostra inalcançável
até tocar o limite
de sua própria negação
como o vento
sobre a harpa eólia
ou nos móbiles de Calder
Duda Machado
em Margem de uma onda
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