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5 de out. de 2009

Ação

Ela acorda cedo aberta ao estupro. Não é assim que faz o coelho, os roedores em geral, os soldados em tempo de guerra? Ela muda depressa e agora é um alexandrino acentuado em u. Ela pensa em mudar o emprego, em mudar o emprego da língua, ela pensa em cantar o Hino Nacional. Ela viu na televisão um condor que não sente as próprias asas. Ela viu como fazem os répteis e o saci. A natureza é linda e variada. Ela sonha em se casar com várias espécies de homens. Ela sonha com bichos que dançam e fazem um ruído próprio no acasalamento. Ela gosta de olhar a pista de patinação no gelo. A terra é redonda, nada é muito longe. Ela não pensa em viajar. Ela está exausta e só pensa em ser feliz. Ela não está nem aí. Ela quer saber sobre as estrelas, sobre coisas mortas que brilham há zil anos. Ela quer saber como Lázaro adoeceu de repente. Ela quer mais açúcar, mais beleza. Ela quer sair daqui. Ela vai até o banheiro. Ela volta. Ela mente um pouco. Ela muda de roupa. O dia termina. Ela abre o leite, parece azedo. Ela engole.

Laura Erber
em Vazados e molambos

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