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29 de mai. de 2018

implacável

[a partir da pergunta-convite da ana]


ela quase caiu da escada, disseram. devolvi com um sorriso falso, fraco, em resposta. ninguém sabe que fui eu quem tropeçou e rolou, escada abaixo do nível do mar. um calendário em meu corpo, acompanho a metamorfose nas manchas pretas, roxas, azuis, amarelas.... desenhos uniformes, totais, se diluindo em pontilhados, sombras cada vez mais tênues. debaixo da carne, os ossos. coração de galinha no espeto. quando olhei o primeiro degrau, foi uma vertigem que senti, tremor de terra, vento forte. o desequilíbrio e a queda permanente ensinam: meu umbigo está no centro. agora nós aqui reunidas, um arquipélago, todos os umbiguinhos. se o estômago ronca, canta seu solo que nos envergonha ouvir, teria sido melhor não esquecer das vísceras? ali onde se digere, os restos fermentam, algo se excreve pra lembrar que tanta pompa não nos poupa do antigo fato: além da testa, além da teta, o dedão do pé na beira do abismo dança.

eh

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