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15 de set. de 2009

claro


Cicerone cego


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A insônia muitas vezes é um tipo de lucidez às três da madrugada onde nos engolfa não aos borbotões, mas incisiva e parcimoniosamente a explicação de tudo. O mover-se na terrena. O que não evita a estranheza, um extenuar-se, alma-neurônio, ou o que nos dois pensa que alcança. Posso falar para os fantasmas, já que fisiologicamente ninguém me acompanha.
            O mapa-intestinal que sonhei lograr desimporta. Toda cidade é uma mesma cidade. O que somos (?) não deixará de ser se muda a paisagem. Tendo, apesar de cego, a buscar postos privilegiados de observação, na cobertura onde estou percebo toda a baía e grande parte da costa. O café com conhaque acalenta. Ah... o silêncio é um deleite.
            Lucidez, insônia não quer dizer apenas razão. O neurônio é uma metafísica. O que massacra o megalômano é saber que o universo é indestrutível. E esse clarão, que pode ser cegante, mas suportável, amplia-se na noite a partir do seu corpo que tem fome e sede, estende a mão come e bebe, e é agora e ontem o primeiro e o último homem e todo o intervalo entre. É pleno, talvez beire o delírio, mas é agudo demais pra ser irreal. Esta explicação de tudo, que até a ânsia da síntese e o relatar esta ânsia se torna dispensável. E o niilismo aí não se dá, apenas a constatação sem renúncia, covardia ou omissão de que o vento basta. A hora menos pior é a que precinde de signo, porque a sede do signo é insaciável.

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        O senhor também concorda? Realmente, nas ruminações com o travesseiro somos sérios e quantas vezes fatalistas. Por ali.




João Filho

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